17 fevereiro 2015

Quarto Capítulo − Isto é Shakespeare. ✓




Seems like it was yesterday when I saw your face
You told me how proud you were
But I walked away
If only I knew What I know today
I would hold you in my arms
I would take the pain away
Thank you for all you've done
Forgive all your mistakes
There's nothing I wouldn't do to hear your voice again
Sometimes I wanna call you
But I know you won't be there − Hurt by Christina Aguilera

Os seus pensamentos estavam desorganizados como papéis que voam de uma secretária. O certo ou errado pareciam iguais e inexistentes. Era agora ou nada. A sua mente pedia por apenas um corte para poder aliviar tudo.
Os seus olhos fecharam-se e o lábio inferior foi mordiscado. Uma leve força aplicada sobre a lâmina. A lâmina fez uma “dança”, a dança do alívio da forma mais cruel.
Os olhos foram lentamente abertos para se habituarem àquela dor fina e prazerosa a curto prazo, porém aquilo não tinha aliviado o suficiente…
Pouco a pouco não era possível contar os cortes, era demasiado sangue a escorrer. A agonia misturou-se com o desespero. Mais uma vez, o caminho escolhido era o errado, uma vez mais.
O corpo deu um impulso, quase com vida própria. Demetria escondeu a lâmina na gaveta e caminhou para o seu duche. Ligou a torneira, esperou a água ficar morna. Entrou vestida, era tão estúpido entrar vestida, mas isso era insignificante comparado a todos os seus outros problemas.
As lágrimas eram misturadas com a água. As suas mãos batiam com força na parede pelo desespero, medo, insegurança e por se manter calada. A sua raiva era maior que ela. Só que não havia nada a fazer.

Thursday, 08:25 p.m. Lovato’s House, Santa Barbara CA
Demetria decidiu deixar de lado toda a sua raiva e orgulho, a sua mãe precisava de si, tal como ela precisava da sua mãe.
Tudo estava silencioso, outra vez. A sua mãe devia estar na cozinha, como de costume.
− Mãe? – Demetria chamou-a com receio atrás da porta. Dianna virou o papel que escrevera, pareceu-lhe que tinha sido surpreendida.
− Demi? – Dianna limpou as lágrimas e levantou-se. – Por favor, vem cá. – Pediu-lhe.
Demetria fechou a porta e avançou para os braços da mãe. As duas desfizeram-se em lágrimas salgadas de dor. As duas foram escorregando até os seus joelhos baterem no chão gelado.
− Tive tantas saudades suas, mamã! – Demetria confessou.
Dianna confessou as saudades que tinha do toque da filha, também. Ficaram naquela cena de se acarinharem por uma bela de uma meia hora.

Friday, 10:56 a.m. Lovato’s House, Santa Barbara CA
Demetria despertou pelos finos raios que transpassavam as pequenas fissuras entre as cortinas. Estava calor pela manhã, pela primeira vez naquela primavera. Demetria caminhou silenciosamente para não acordar Dianna.


Depois de se ter vestido foi comprar alguma coisa para o almoço e passou depois no bar para deixar as encomendas que D.ª Ricci encomendou à sua mãe.

Friday, 11:19 a.m. Bar, Santa Barbara CA
− Ecco i vostri ordini, Ricci signora. − Demetria falou fluentemente as palavras num italiano natural. Demetria aprendera algumas coisas com a senhora de idade que era italiana. Demetria e Dianna, inclusive, passaram as suas férias de verão em Itália com Dª Ricci há uns anos.
− Demi! Que bom ver-te! – A senhora virou costas ao balcão e abriu os braços pequenos em direção a Demetria. – Como vais?
− Vou andando. Por aqui parece ir tudo de vento em popa. – Demetria olhou para a quantidade de clientes e notou alguns que chamaram a sua atenção, ficou incrédula.
− Claro! Eu e o meu marido estamos a planear ir a Itália neste mesmo ano visitar a nossa família. – O seu sotaque era evidente, sobretudo na palavra “Itália”.
− Fantástico! Espero que tudo corra bem, Dª Ricci! Agora, se me dá licença, tenho de regressar a casa para ajudar a minha mãe. – Abraçaram-se pela última vez.
Demetria atravessou o salão e sentou-se na cadeira vaga da mesa do seu grupo de amigos.
− Vocês fazem uma reunião e nem me convidam? Esta doeu. – Demetria fingiu uma cara de ofendida.
− Eu tentei ligar-te, mas dizia que não estavas disponível. – Jonas batia de leve no telemóvel. Ashley parecia uma cola, houvesse paciência.
− Ah… Houve uns problemas… − Tentou disfarçar. Selena olhou-a com preocupação. – E para quê uma “reunião”?
− A minha mãe organizou um jantar para a família e amigos próximos. – Disse. – E é hoje, às oito e um quarto.
− A tua mãe tem sorte em eu gostar muito dela, porque a minha vontade de sair e ver pessoas é nula. – Selena e Demetria disseram.

Friday, 11:33 a.m. Lovato’s House, Santa Barbara CA
− Mãe! Cheguei! – Demetria gritou.
− Para de gritar, menina! Estou aqui! – Dianna riu. Já estava a preparar a comida. O seu sorriso estava de volta, embora lhe parecesse um pouco magoado.
− Desculpe, pensava que estava na sala a escrever ou algo do género. – Demetria desculpou-se lançando-lhe uma indireta ainda sobre o acontecimento do dia anterior.
− Sim, eu já terminei de escrever o que eu queria.
Demetria lançou-lhe um sorriso.

Friday, 01:24 p.m. Lovato’s House, Santa Barbara CA
− E o jantar? É às oito e quarto? – Dianna perguntou a Demetria sobre o jantar.
− Sim. Não me diga! A mãe e a Danielle passaram novamente duas horas ao telefone? – Demetria riu.
− Sim! Há muito tempo que não ponhamos o assunto em dia. − Dianna riu acompanhando Demetria. – E quando é que se vão assumir?
− Assumir? Quem? O quê? – Demetria “cuspiu” toda a água, na verdade sabia do que se tratava.
− Demi, achas mesmo que eu não sei? Não te podes enganar a ti mesma. – Dianna olhou-a profundamente como se lhe lesse alma.
− Mãe… – Demetria suspirou e encolheu-se na cadeira.
− Oh meu amor… Vai tudo dar certo. “ As nossas dúvidas são traidoras e fazem-nos perder o que, com frequência, poderíamos ganhar, por simples medo de arriscar”. Isto é Shakespeare. – Dianna sorriu-lhe e abraçou-a. – Agora vai-te divertir. Aposto que a Danielle já expulsou toda a gente de casa. – Demetria cumpriu a “ordem” da sua mãe.
Demetria sabia muito bem onde os encontrar, afinal Danielle expulsou-os ao final do almoço. O único lugar bom para se conviver era o bar.

Friday, 02:18 p.m. Bar, Santa Barbara CA
O barulho das batidas nas mesas, das pessoas a conversarem, as apostas amigáveis… Tudo isto era bom.
− Olá, de novo! Novidades? – Sentou-se na cadeira que continuava vaga. Sentiu os olhares sobre si.
− Olá, Demi! Bom, estes são os nossos “amigos”. Eles vão animar a festa de aniversário do Wiliam. – Selena esclareceu-lhe.
− Ah claro! O Wiliam.
Wiliam era um primo bem distante da família Jonas. Nunca estava presente nas festas da família, nunca ninguém se entendia muito bem com ele, afinal, era machista e outras coisas terríveis que não lembram a ninguém.
– Ele convidou a família para a festa?
− Todos os adolescentes da cidade. – Ashley fez-se notar.
− Ele é doido? Não vai às festas da família e depois dá uma festa de aniversário e convida até desconhecidos? – Selena protestou.

Friday, 06:20 p.m. Gomez’s House, Santa Barbara CA
− Achas mesmo que este jantar vai correr bem? – Demetria atirava a roupa para um canto do quarto de Selena que a obrigou a preparar-se na sua casa.
− Que raio de pergunta é esta? – Selena saía do duche com uma toalha enrolada no corpo e outra no cabelo.
− Só um pressentimento… − A sua voz parou e o seu corpo girou para olhar para trás. Selena tinha um olhar assustado.
− Demi, tu andas muito estranha. Passa-se alguma coisa contigo? Fala, menina! – Selena estava mais apavorada que a própria Demetria.
− Nada. Só senti um cheiro a rosas diferente do meu, mais adocicado. – Selena cheirou e negou.
− Okay, vamos arranjar-nos e ficar lindas de morrer? – Selena abanou a cabeça e puxou-a.
Pegaram em vestidos pouco elaborados, afinal era um jantar e não uma gala. Tinha de ser formal, mas não muito. Tal como a maquilhagem que tinha ficado leve.
− Ainda vou passar pela casa da minha mãe, sim? – Demetria passava perfume no pescoço e atrás das orelhas enquanto Selena delineava os seus lábios com lápis vermelho.
− Claro! Vou apenas colocar o perfume e vou já para casa dos Jonas. – Demetria fechou a porta. Andar alguns minutos em saltos não seria fácil, a única vantagem seria que o caminho dava bem para caminhar.
− Mãe! – A voz ecoou o suficiente para ser ouvida em boa parte da casa. Caminhou e viu uma espécie de carta em cima da mesa onde as chaves eram pousadas.

Eu sei. Eu sei que quando estiveres a ler esta carta, já não estarei mais aí perto de ti. Não queria que nada disto fosse assim, desta maneira. Mas se foi desta maneira, foi porque teve de ser.
Enquanto oiço o som do coração ansioso e nervoso sem saber o porquê destes sentimentos banais. Este pode ser o melhor momento para alguns, mas para outros será o desespero agonizante, isto refere-se a ti, minha Demetria.
Fui apenas eu, nós e outras pessoas importantes, que fizeram parte do elenco principal da tua vida. Só que está na hora de enfrentar os teus demónios interiores. Sabes muito bem a quem me quero referir. Enfrenta-os, nem que seja para dizer “Eu não te aceito e nunca mais me incomodes!” Afinal, não precisamos matá-los para os enfrentar.
Algo que te queria dizer sobre as pessoas importantes é que não estás a enxergar o especial, ou não estás a fazer-te sobressair de modo a seres avistada. Acho que vocês dariam netos lindos. Talvez esteja a ir longe demais, este é apenas o fim de um ciclo. Não te desesperes, minha querida. Quando uma porta se fecha outras são abertas.
Tenta, pelo menos, amar por dois segundos quem tu pensas que é o teu inimigo. Na verdade, nem teu inimigo é. Dá uma oportunidade a quem é apenas o bobo da corte da história mais incrível imaginada.
Já deves estar a chorar horrores, agora. Sempre foste uma menina forte e durona, mas todas as noites choravas, pedindo um pouco de consolo a quem nem conheces. Sim, eu ouvi sempre…
Sabes na última noite, quando pediste para nos entendermos e parar de idiotices? Nós sentimos os nossos corações cheios de amargura e pensamentos escuros, só que naquela escuridão existia um bom princípio. Mais uma coisa, eu quis fazer uma reconciliação, porque não queria que dissesses “A última vez, nós discutimos…”, seria um grande egoísmo da minha parte, acredita.
Aonde quer que eu esteja, eu estarei lá para te ajudar. Olharei por todos vocês, até pela Ashley. Não te massacres porque se alguma coisa deu mal, se deu mal foi porque precisou dar mal. Não funcionaria se tivesse dado bem. Eu sei que tu és uma menina frágil e forte, com um coração de ouro, tu és o anjo que todos precisam.
Vive a Vida tal como ela é, não tentes modificar as tuas escolhas…
Com Carinho,
                Da tua mamã.”

Demetria não sabia ao certo o que aquilo queria dizer, as suas mãos tremiam e os seus olhos enchiam-se de água. O partir de um copo.
− Mãe! – Ela gritou o quanto pôde. Entrou no quarto de Dianna e viu a sua mãe deitada inconsciente e um copo a rolar rodeado de comprimidos. O seu desespero era maior que o medo, as suas reações congelaram, literalmente.
Pegou no telemóvel e marcou o número de Selena.

−Estou sim? – Uma voz masculina soou.
− A… A minha mãe, ela está inconsciente! – Gaguejava, tudo parecia ter sido obra de um pesadelo.
− Demetria? Eu vou já para aí. Tem calma! – Ele falou e o seu telemóvel caiu ao chão enquanto ela tinha sido, uma vez mais, destroçada

Um comentário:

  1. Hey, Jeny! Vou indo ^_^
    Kkkk meu Deus, acho que me esmerei desta vez. Afinal, eu nunca fiz chorar alguém com um capítulo. Obrigada pelo elogio e pelo choro kkkkkkkkkk
    Muito obrigada, Jenny!
    Besos

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